O
caminho são só as paisagens, os pássaros cantando, as igrejas, as ermidas, os monastérios ou tem algo mais?
Esta
pergunta continua em minha mente. Será que o caminho tem outro significado?
Sim,
entendo que tem algo mais. A satisfação de percorrer um caminho que teve e tem significado
na formação de nações na Europa, ou seja, uma rota histórica na cultura e na
arte. A satisfação de saber que caminhando ali, partilhei de lugares e
paisagens que reis, rainhas, ricos e pobres também estiveram. Compartimos
sonhos, desejos, força para vencer obstáculos, sacrifícios, prazeres.
É um
lugar em que sentimos o Sagrado. Tudo é belo, quem mais poderia ter feito
aquelas maravilhas? É perfeito demais, a perfeição é sempre divina. Somos
privilegiados em poder sentir, ver e ouvir o que a “perfeição” criou.
No meu
caso, o caminho foi maravilhoso por um tema em particular. A liberdade, valor fundamental a todos os
seres humanos. No caminho de Santiago de Compostela, de acordo com José
Fernández Arenas (Elementos Simbólicos de la peregrinación Jacobea) estamos
fora do tempo, do espaço e da lei, ou seja, fora das normas sociais. A sensação
é que estamos em outro lugar, o lugar do espírito, do extraterreno.
Preciso
de minha liberdade, sempre a busquei para ser independente e seguir o caminho
que escolhesse nesta vida, arcando com êxitos e fracassos. O caminho permitiu
não me preocupar com as regras de comportamento sociais, era estrangeira em
terra alheia (peregrina). Me senti encaixada naquele ambiente, em que a única
regra é o respeito mútuo.
Ali
não havia críticas ou olhares reprovadores de outros peregrinos, todos fazíamos
o que queríamos e quando queríamos, não havia cobranças sociais de beleza
externa, mas a busca da beleza e da paz interior; a elegância cedeu lugar a praticidade
na vestimenta; se você era gordo ou magro, andava rápido ou devagar, pouco
importava, o que importava era chegar a Catedral em Santiago, abraçar o
Apóstolo ou simplesmente desfrutar da beleza e história daquela cidade. Ali
ninguém queria saber se você era empresário, empregado, milionário, pobre,
herói, santo. Estávamos concentrados em
nossos próprios pensamentos, buscando sentir o que a natureza nos proporcionasse
de sensação prazerosa ou de dor, não tínhamos tempo de criticar o próximo. A
certeza era que deveríamos ser receptivos e solidários a todos que quisessem se
aproximar de nós, como se vivêssemos em outro tempo e outro espaço.
Pode
não ser esta a resposta de outros peregrinos, é a minha. Porém, continuo
pensando uma vez que ainda estou no caminho da vida. E, amanhã é outro dia.
Mirânjela
01/08/2017
Amiga, texto indo e perfeito sua capacidade de mostrar o que o caminho representa fortalece nosso desejo de retorno e ativa a saudade da liberdade que tanto encanta no caminho. Parabens vc sempre me surpreende. Bjs
ResponderExcluirObrigada peregrino! Continuarei a busca pelo aprendizado e compreensão do humano e do sagrado!
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